O protagonismo da mulher na Educação Básica
Por Carolina Paschoal, diretora e pedagoga da Escola Pedro Apóstolo
Do que é feita uma escola da Educação Básica? Esta é uma pergunta que certamente propõe uma discussão de grandes proporções. Uma instituição de ensino que atende a essa etapa de aprendizagem é feita, principalmente, por mulheres como gênero predominante na docência.
Não é incomum, ao passear pelos corredores de uma escola, nos depararmos com essa maioria feminina (o que pode se estender, inclusive, para as demais funções em algumas instituições). No Brasil, as mulheres ocupam 81% dos cargos de docência de escolas regulares, técnicas e EJA (Educação de Jovens e Adultos), seja em escolas públicas ou particulares, de acordo com dados do Censo Escolar de 2020, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Deste total, observa-se que essa disparidade aumenta quando desmembramos os ciclos de ensino. Ou seja, as mulheres correspondem a 96% dos professores da Educação Infantil. No Ensino Fundamental I e II, elas representam, respectivamente, 88% e 67% dos docentes.
Este fato pode ser explicado historicamente. A partir de 1860 (ainda no período do Brasil Império) mulheres já exerciam a função de professoras. Na mesma época, no século XIX, os homens passaram a renunciar às suas funções no Ensino Básico, concomitante ao surgimento das escolas normais (focadas na formação de professores) a partir do ano de 1875. Isso resultou em cada vez mais mulheres na área e, consequentemente, a predominância do interesse feminino em lecionar.
Nesta terceira década do século XXI, percebemos que os cursos de formação de professores, tanto em nível médio como superior, ainda abrigam em sua maioria mulheres, o que nos faz acreditar que as escolas continuarão com a presença majoritariamente feminina por algum tempo no país.
Esta reflexão não busca convencer de que, quando se trata de Educação Básica, as mulheres são essencialmente maioria porque têm mais afinidade com as relações que os homens. Mesmo porque, esta não é a realidade mundial, ainda que seja um quadro predominante nos países ocidentais. Educar não é uma questão de gênero, mas de vocação. Então nos cabe questionar o motivo pelo qual esse modelo se repete ano após ano.
Biologicamente a mulher é um ser que carrega (na maioria dos casos), um instinto de proteção e acolhimento, principalmente com aqueles que se mostram imaturos em realizar funções e tomar decisões com autonomia. Talvez aí haja uma relação do motivo pelo qual as escolas possuem esta disparidade de gênero. Mas esta é uma opinião empírica, que se baseia somente na minha trajetória profissional como pedagoga e diretora de uma instituição de ensino.
Em uma visão mais ampla, contudo, alguns setores da categoria acreditam que, por não ser uma profissão reconhecida financeiramente no Brasil, com mais valorização profissional, a sociedade tende a acreditar que a docência da Educação Básica seja uma profissão tendenciosamente feminina. Este pensamento resgata ainda toda a questão histórica decorrente de uma sociedade patriarcal como a brasileira, na qual as profissões mais valorizadas são voltadas predominantemente aos homens.
Ainda que haja poucos estudos relacionados a este tema, é fato que as mulheres contribuem com o desenvolvimento da educação brasileira diariamente, quando acordam em suas casas, deixam seus familiares e passam quarenta horas semanais (ou mais), nas escolas, em busca da educação de significado. Acima de tudo, as mulheres docentes amam sua profissão e são capazes de passar por todos os desafios que em si carregam, como a falta de valorização profissional em algumas regiões brasileiras, falta de estrutura para exercício da função e ainda sob julgamentos constantes das famílias e outros setores da sociedade a respeito do seu trabalho.
Quem vive o cotidiano escolar percebe que os desafios enfrentados por gestores e professores não são poucos. Antes de qualquer construção pedagógica realizada em sala de aula, é fundamental compreender que todo aluno matriculado carrega um universo em particular e que nem sempre a estrutura familiar ou econômica dessa criança é permeada por um caminho de paz. O que certamente torna essencial estabelecer o vínculo com as famílias.
Com base em uma pesquisa chamada “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres do Brasil”, de 2019, realizada pelo IBGE, as brasileiras apresentam maior interesse pela educação e, por assim dizer, são mais instruídas que os homens, resultando no maior acesso à Educação Superior.
Neste Dia Internacional da Mulher, é importante salientar que as docentes se tornaram protagonistas na criação de alicerces na Educação Básica. Isso ocorre seja pelo maior interesse na formação continuada e, por assim dizer, por confiar na emancipação dos cidadãos através da educação, ou também por estarem conscientes da importância de construir vínculos afetivos e de aprendizagem com os alunos e suas famílias.
É importante reforçar que isso não quer dizer, de nenhum modo, que os homens presentes neste quadro não o façam com excelência. Mas é necessário destacar que historicamente essa profissão se tornou mais feminina do que masculina. Ou seja, é fato que as professoras, pedagogas e diretoras trabalham com afinco e propósito, para buscar qualidade no ensino de muitos alunos e alunas no Brasil.
Artigo publicado com exclusividade no jornal Gazeta do Povo