Carnaval vem aí: uso de próteses na água por pessoas amputadas é permitido, mas é bom ficar de olho nos cuidados
A folia está chegando! Entre sexta-feira (9) e quarta-feira (14), milhões de pessoas no Brasil vão curtir, de diferentes maneiras, o Carnaval 2024. Para muitos é tempo de praia, piscina ou cachoeira, não só no carnaval, mas em outros feriados e nas férias. É o caso da instrutora de mergulho Mariana Hagemann Martello, 29 anos, e do paratleta Pauê Aagaard, 41. Além de terem em comum a paixão pela profissão, também curtem ambientes aquáticos, mas com um detalhe: os dois sofreram acidentes que os levaram a cirurgias de amputação de membros inferiores. Como consequência, precisam usar próteses para realizar atividades diárias, inclusive trabalhar e se divertir nas águas, na época de verão. Para isso, ambos precisam de equipamentos resistentes à água, além de manutenção e cuidados necessários para manter suas próteses em pleno funcionamento, seja antes ou depois do uso em ambiente aquático.
Mariana e Pauê fazem parte de um grupo de 18,6 milhões de brasileiros que têm alguma deficiência, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada em julho de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Uma parte dessa população precisa usar equipamentos para melhoria da mobilidade, como é o caso do paratleta e da instrutora de mergulho. Isso torna necessário o desenvolvimento de equipamentos resistentes à água, tanto para situações de lazer quanto de trabalho.
Mariana sofreu um acidente em uma embarcação enquanto trabalhava em Fernando de Noronha, em fevereiro de 2020, e teve parte da perna esquerda amputada. A cirurgia foi transfemural, ou seja, o corte para a retirada do membro aconteceu na altura da coxa. “Voltei a mergulhar quatro meses depois do acidente, e me senti confiante para voltar a trabalhar na temporada de verão seguinte”, comenta. Agora, contudo, ela conta com as próteses que a ajudam a caminhar e nadar. “A prótese que eu uso é toda à prova d’água – tem que ser. Hoje em dia eu não trabalho só como instrutora de mergulho nem estou todos os dias no mar, mas caminho na praia quase todos os dias, ando de caiaque direto e sempre que posso estou mergulhando. Meus componentes foram escolhidos para isso”, afirma.
No caso de Pauê, a amputação foi transtibial (entre os pés e os joelhos) e aconteceu nos dois membros inferiores, após ele ser atingido, no ano 2000, por uma locomotiva em uma linha férrea em São Vicente (SP). Com isso, precisa usar próteses nas duas pernas. Ele, que foi considerado o primeiro surfista bi amputado do mundo no início dos anos 2000, também já competiu no Triathlon e conquistou o tetracampeonato internacional da modalidade, nos anos de 2002, 2003, 2006 e 2007. Sobre o uso de próteses na água, ele afirma que quanto mais componentes para garantir a durabilidade, melhor para os utilizadores. “Para quem precisa usar equipamentos em ambientes aquáticos, poder ficar horas se necessário e não ter intercorrências é fundamental”, explica.
Para cada componente, uma especificação
O paratleta e a instrutora de mergulho utilizam próteses produzidas pela Ottobock, empresa alemã com atuação no Brasil e que também desenvolve equipamentos de mobilidade para uso em ambientes aquáticos. O diretor de Academy da empresa na América Latina, Thomas Pfleghar, aponta a importância do cuidado com o uso dos equipamentos após entrar em ambientes aquáticos. “Como cada componente possui sua característica específica e cuidados necessários, recomenda-se estar atento se a prótese pode ou não ser utilizada na água e por quanto tempo, além da limpeza do equipamento. Por isso, é importante observar questões como manutenção para que os utilizadores possam ter o suporte necessário para algum acompanhamento”.
Recentemente, inclusive, a questão veio à tona com a participação do paratleta Vinicius Rodrigues no BBB24, que também utiliza dos equipamentos da Ottobock. Na primeira prova do líder, ele teve que trocar de prótese para uma que fosse mais adaptada ao uso em ambiente aquático, devido às exigências da competição. A princípio, Vinícius utilizava uma prótese com componentes eletrônicos e trocou por um equipamento mecânico. “Como em qualquer produto eletrônico à prova d’água, há sempre a preocupação de que o líquido possa causar danos. Diante dessa consideração e visando à segurança do equipamento, foi permitida a substituição da prótese, uma vez que a preocupação com um componente mecânico é evidentemente menor”, diz Pfleghar.
Manutenção e limpeza
O caso de Vinícius e de outros utilizadores de próteses são exemplos de como é fundamental para pessoas com próteses procurarem a equipe técnica qualificada para a manutenção, sempre que necessária, e ajustes após o uso de equipamentos na água. “É imprescindível fazer manutenções e avaliações periódicas na prótese com um técnico protesista especializado para avaliar as condições do produto”, indica Pfleghar.
O diretor aponta que também é sempre recomendado estar atento às instruções que a pessoa recebe no momento da protetização. “Aconselho que as pessoas tenham certos cuidados quanto ao uso dos componentes em água salgada e clorada, por exemplo. Nesses casos é imprescindível lavar os componentes com água doce para retirar todos os resíduos como areia, sal e cloro. Após a limpeza, secar com pano macio”, afirma.
Pauê destaca as possibilidades de usufruir de momentos de lazer durante o verão e as férias, em ambientes aquáticos com os componentes resistentes, sem grandes preocupações. “A sensação é sempre de liberdade, de poder usar equipamentos na água sem preocupação. São componentes para usufruir e tenho pouca manutenção. Isso mostra mais uma vez a inclusão que esses equipamentos possibilitam. Claro que, sempre que necessário, é recomendável procurar uma clínica especializada para fazer um diagnóstico do equipamento”, comenta.
Mariana concorda e ressalta a necessidade dos cuidados. “A prótese é uma ferramenta para que você viva melhor, e deve ser cuidada de acordo com isso. Por isso, é sempre bom lavar a cada atividade aquática, fazer manutenção sempre que possível e necessário e conversar com profissionais que cuidam desses equipamentos sobre o que pode e o que não pode ser feito. Fora isso, se joga”, recomenda.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.