Atleta de Goiânia que busca ouro paralímpico fala sobre adaptação no Mês da Conscientização da Amputação
O paratleta Raysson Ferreira, da Seleção Brasileira de Vôlei Sentado, é de Goiânia e está a poucos meses de um dos seus principais objetivos do ano: disputar as Paralimpíadas de Paris, que começam em agosto de 2024. A participação na principal competição do mundo, que acontece somente de quatro em quatro anos, é um dos passos mais importantes na carreira do atleta, hoje com 24 anos. Até chegar a essa oportunidade, foram sete anos desde que descobriu um câncer na perna esquerda e precisou retirar o membro. A amputação é uma realidade não só para Raysson. Segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBAVC), somente no ano de 2022, o último com dados fechados, a média diária dessas cirurgias no Brasil foi de 85,5 casos, e abril é considerado o mês da conscientização da amputação.
Raysson faz parte de um grupo de cerca de 280 mil brasileiros que passaram por procedimentos semelhantes entre janeiro de 2012 e maio de 2023. Somente em Goiás, foram quase 6 mil pacientes no mesmo período. O estado é o campeão em amputações no Centro-Oeste. Somente entre 2012 e 2022 (que possuem os dados anuais fechados), houve crescimento de 76,9% nas cirurgias de retirada de membros, o que também representa o maior percentual de aumento no número de pessoas amputadas em comparação com os demais estados da região e com o Distrito Federal. Os dados também são da SBAVC e levam em consideração as cirurgias feitas pelo SUS.
O câncer que Raysson enfrentou, quando tinha somente 17 anos, é um osteossarcoma, uma doença agressiva que atinge os ossos principalmente nas crianças e adolescentes. Na época estudante do Ensino Médio, o paratleta desconfiou de algo errado com sua perna esquerda quando começou a sentir dores ininterruptas. “Eu procurei um médico e a suspeita era de uma contusão muscular. Em torno de seis meses permaneci fazendo exames, e depois suspeitaram de trombose. Mas somente por um raio X os médicos conseguiram descobrir a doença. Cheguei a iniciar o tratamento com quimioterapia, mas foi necessário amputar a perna”, comenta.
Neste mês de conscientização sobre a amputação, o paratleta diz que o conhecimento sobre as doenças e a necessidade de cirurgias é fundamental para esclarecer os pacientes. “É importante as pessoas saberem melhor aquilo que elas passam, para que possam cuidar, se prevenir, ou até mesmo procurar profissional especialista para fazer uma amputação melhor, que garanta mais qualidade de vida, além de ter também orientação do que o mercado pode oferecer em questão de equipamentos, como próteses. Toda a população precisa ter consciência do autocuidado também para buscar a prevenção”, comenta.
Próteses e tratamento contínuo
Após a amputação, Raysson precisou usar muletas, mas conseguiu se adaptar e utilizar próteses. Atualmente, ele frequenta uma clínica da Ottobock, empresa alemã que fabrica equipamentos com tecnologia assistiva para pessoas com deficiência. Na clínica em Goiânia, o paratleta busca atendimento especializado em diferentes áreas, como na parte técnica para ajustes na prótese, ou para algum acompanhamento fisioterápico. “Vou pelo menos uma vez por mês, mas em alguns casos vejo necessidade de ir a cada duas semanas para olhar prótese ou fazer manutenção. É importante frequentar um tratamento contínuo e se sentir em casa, acolhido, ter mais qualidade de vida e um foco mais pessoal”, diz.
O diretor de Academy na América Latina da Ottobock, Thomas Pfleghar, explica que cada paciente tem uma mobilidade diferente, que requer mais ou menos funções em uma prótese. “Por isso, é importante que um joelho protético, no caso da amputação de uma perna, forneça segurança quando o paciente se apoie sobre a prótese (chamada de fase de apoio) ou em movimento controlado na chamada fase de balanço (quando ocorre movimento de flexão e extensão, por exemplo)”. Esses equipamentos, conforme explica o diretor, são feitos com base em análises em laboratórios a partir de pessoas não amputadas, para que as próteses criadas cheguem mais perto do que é um membro fisiológico.
Após a amputação do membro, a adaptação de um paciente ao uso de uma prótese tem, basicamente, três passos: primeiro a fase pré-protética, na qual é necessário preparar o membro residual (a parte do corpo que, após a cirurgia, vai estar ligada ao equipamento) para receber o componente; depois o paciente recebe um encaixe provisório, quando a pessoa é monitorada quanto ao conforto com a prótese, treinamento da marcha e suas atividades de vida diárias; e na sequência, após a adaptação e com o membro residual estabilizado, é confeccionado o encaixe definitivo.
A coordenadora de fisioterapia da empresa na América Latina, Maria Laura Pucciarelli, destaca ainda a necessidade de um acompanhamento multidisciplinar para pacientes amputados, seja no processo inicial do uso das tecnologias ou para ajustes e mudanças nesses equipamentos. As pessoas amputadas, segundo a especialista, podem possuir outros comprometimentos que precisam de atenção, além do uso dos componentes. Entre os profissionais envolvidos estão médicos, fisiatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos. “A visão global e o alcance de todas as ferramentas disponíveis para o tratamento de uma pessoa com deficiência é o que garante a maior autonomia e independência possível. Essa é a importância de uma abordagem multiprofissional para as pessoas com deficiência”, esclarece.
Expectativa para Paris
Após ser amputado, ainda na escola, Raysson queria praticar esportes nas aulas de educação física, mesmo com as limitações. Em meio a sua insistência, uma professora indicou que ele fosse treinar em algum paradesporto. Com isso, em 2018, ele iniciou seus treinos no vôlei sentado e atualmente integra a seleção brasileira que vai à Paris. Antes das Paralimpíadas, Raysson já teve conquistas. Em 2023, foi campeão panamericano da modalidade no Canadá.
Antes das competições na França, ele ainda tem um torneio que será disputado na Holanda. Depois, o foco é total para a busca do primeiro lugar no pódio em País. “É claro que o ouro é a expectativa. Nós já estamos há muito tempo beliscando o pódio e esse ano estamos firmes e confiantes na conquista desta medalha. Sabemos que o Irã é uma das esquipes mais fortes, mas temos confiança que podemos vencer”, afirma.
Sobre a Ottobock
Fundada em 1919, em Berlim, na Alemanha, a Ottobock é referência mundial na reabilitação de pessoas amputadas ou com mobilidade reduzida por sua dedicação em desenvolver tecnologia e inovação a fim de retomar a qualidade de vida dos usuários. Dentro de um vasto portfólio de produtos, a instituição investe em próteses (equipamentos utilizados por pessoas que passaram por uma amputação); órteses (quando pacientes possuem mobilidade reduzida devido a traumas e doenças ou quando estão em processo de reabilitação); e mobility (cadeiras de rodas para locomoção, com tecnologia adequada a cada necessidade). A Ottobock chegou ao Brasil em 1975 e atua no mercado da América Latina também em outros países como México, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai, Argentina, Chile e Cuba, além de territórios da América Central. Atualmente, no Brasil, são oito clínicas, presentes em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Salvador.