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15 set

Queda na Selic: a Construção Civil pode se animar?

Por Joaquim Ribas de Andrade Neto, engenheiro civil e sócio-diretor da Construtora Andrade Ribeiro 

 

Entre os próximos dias 19 e 20 de setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central fará a próxima reunião do ano para definir a Selic, considerada a taxa básica de juros do Brasil. Em agosto, um ano depois de atingir o maior patamar desde o início de 2017, enfim o órgão fez um corte de 0,5% na taxa. Agora com índice de 13,25%, a expectativa é por novas quedas até dezembro, quando acontece a última reunião do ano de 2023. O cenário torna-se mais positivo para o reaquecimento da economia, tendo em vista a importância da taxa como reguladora de indicadores de produção e inflação. Mas será que é possível se animar depois de tanto tempo com índices altos?

A Selic, que é referência para diversos juros da economia, teve a estabilidade no patamar de 13,75% vista como necessária por economistas do Banco Central em decorrência da alta na inflação do país naquele momento. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até agosto de 2022, por exemplo, estava perto de 10%. A título de comparação, o mesmo índice acumulado em um ano até julho 2023 estava em 3,99%. A queda se deve, entre outros fatores, à alta da Taxa Selic.

Os juros básicos da economia quando estão altos ajudam a frear o consumo das famílias. Isso porque, com a Selic alta, outros juros também sobem e afetam financiamentos, empréstimos e o crédito para os consumidores. Com isso, o consumo das pessoas tende a cair. Por outro lado, essa situação ajuda a diminuir os preços dos produtos e impacta nos índices de inflação, que diminuem com o passar dos meses. Outra consequência, contudo, afeta o setor produtivo, que vê na diminuição da procura dos brasileiros pelo crédito e por financiamentos uma barreira para o crescimento da economia.

Esse conjunto de questões pode atingir a Construção Civil, um dos principais setores produtivos do país e que cresceu, em 2022, 6,9%, mais do que o total do PIB do Brasil, que teve alta de 2,9%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). De acordo com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o setor registrou aumento de 10% no mercado formal de trabalho no ano passado, o que impulsionou os índices de contratação no Brasil. Para se ter uma ideia, no ano passado o desemprego ficou em 9,3%, o menor nível desde 2015.

Porém, o crescimento da construção civil depende da queda na taxa básica de juros para que sejam ampliadas as condições de compra para o consumidor. A redução na Selic, ao influenciar na diminuição de outros juros por parte dos bancos, melhora o cenário para financiamentos, empréstimos e abertura crédito para que os consumidores, interessados em adquirir novos apartamentos, casas ou escritórios. 

Por isso, o setor vê com otimismo o anúncio da redução no início de agosto. Isso é essencial para que as incorporadoras tenham bons prognósticos e possam planejar com mais segurança seus investimentos. Ainda que a diminuição tenha acontecido somente depois de um ano em que a Selic estacionou em 13,75%, o setor está animado. Isso porque, segundo o Boletim Focus da última reunião do Copom, a expectativa é de que até o final de 2023 a taxa básica de juros chegue a 11,75%. Para 2024, houve queda na projeção, de 9,25% para 9%, e para 2025 a expectativa do índice diminuiu de 8,75% para 8%. 

É importante ressaltar que o aquecimento do setor de Construção Civil, bem como a procura de consumidores por imóveis, não acontece de uma hora para outra. Possivelmente, nos próximos índices de contratações e do PIB do setor, essa diminuição inicial na Selic não terá tanto efeito. Mas, a longo prazo, isso pode ter o impacto positivo que se imagina. Com as boas perspectivas para as próximas reuniões do Copom e, consequentemente, para a queda no juro real e a ampliação do crédito, podemos esperar movimentação no mercado consumidor e, como consequência, nos investimentos das incorporadoras. Seja por parte de quem produz, trabalha ou compra do setor, todos estarão mais animados nos próximos meses caso as perspectivas se confirmem.

*Artigo publicado com exclusividade no jornal Monitor Mercantil